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21/06/2020

A meleca presidencial (contos de pandemia)


Presidente da República de Macondo passeia com seus capangas numa padaria, e tira, ao vivo, uma meleca do nariz para cumprimentar um pequeno grupo que se amontoa em volta dele para fazer selfies com seus celulares.
O mais sortudo, aquele que recebeu a meleca presidencial, como um jogo antigo de crianças chamado de passa anel, vai para seu casebre orgulhoso, pensando em procurar uma redoma para expor a relíquia na sala e, quem sabe, cobrar entrada, como fizeram Pelayo e Elisenda com o anjo caído, no conto Um senhor muito velho com umas asas enormes, do livro A incrível e triste história de Cândida Erêndira e sua avó desalmada, de Gabriel García Marquez, que o presidente nunca leu.
A Meleca Presidencial escorrega das mãos do sortudo, cai numa vala de água suja e é encontrada meses depois por dois catadores de lixo na cidade de Goiânia, eles têm vômitos frequentes, diarreia, tontura e mãos inchadas, enquanto notam um brilho azul emanando da meleca, e concluem que só pode ser uma meleca preciosa, ou mesmo algo sobrenatural. E quinze dias depois, todos que tocaram a meleca reluzem seus corpos brilhantes, e começam a morrer.

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